🌹 BRISA DA SEMANA
“Não é que a gente tenha pouco tempo.
É que a gente perde muito.”

O tempo que escapa
Deusa, você já percebeu como “não tenho tempo” virou quase um bordão da nossa era?
A gente fala isso sem pensar, como quem pede desculpa por não conseguir existir em tantas direções ao mesmo tempo.
Mas Sêneca, filósofo estoico do século I, já tinha dado o diagnóstico há dois mil anos: o problema não é falta de tempo, mas sim, é o quanto deixamos ele se perder entre distrações e excessos.

Vivemos em uma época que idolatra a pressa, a rotina virou corrida, o silêncio virou incômodo, e o descanso, quase um pecado.
Somos empurradas pra acreditar que o valor da vida está em “fazer render”.
Sêneca dizia que a vida é longa o suficiente, se for bem vivida. Mas o que é viver bem em um mundo que mede o tempo por produtividade?
Talvez seja reaprender a olhar para um dia comum e perceber que a vida acontece ali, entre um café que esfria e uma conversa que não cabe na agenda.

A verdade é que o tempo não desapareceu. A gente é que foi se ausentando dele…

A era da distração
Se Sêneca vivesse hoje, talvez trocasse a pena por um celular e escrevesse: “não é que falte tempo, é que a gente se perde no instagram”.
Segundo um estudo da empresa DataReportal de 2025, o tempo médio que uma pessoa passa conectada às telas é de 6 horas e 37 minutos por dia.
Isso significa que, se somarmos ao longo de um ano, passamos quase 100 dias inteiros vivendo dentro de telas, o equivalente a um terço da vida desperta.
O Sêneca chamava de “vida desperdiçada” aquela que se consome em ocupações inúteis, sem consciência do presente. Hoje, esse desperdício ganhou novas formas: notificações, vídeos curtos, feeds infinitos.
Nos distraímos tanto que confundimos movimento com significado.
Deusa, a mente moderna está sempre em modo de alerta, enquanto Sêneca falava sobre homens que perdiam tempo em banquetes e discursos, nós perdemos em stories, reuniões, mensagens não lidas.
É a mesma fome de controle, só que digital.
A vida não ficou mais curta, ela só ficou mais fragmentada e cada pedacinho de atenção que a gente entrega pra fora, é um instante a menos que a gente habita por dentro.

Vida produtiva x Vida plena: existe uma melhor opção?
Deusa, a gente aprendeu a medir a vida pelo que produz. Isso é, pelas tarefas feitas, pelas metas batidas, pelos resultados que mostram que o tempo “valeu a pena”.
Mas o que acontece quando o fazer ocupa tanto espaço que não sobra tempo pra simplesmente ser?
Sêneca dizia que a vida é desperdiçada quando vivemos para os outros, ou seja, para agradar, corresponder, provar.
E hoje, mais do que nunca, parece que o tempo foi sequestrado pela performance, vivemos em busca de produtividade, mas esquecemos de plenitude.
O relógio virou juiz, e a calma, um luxo que a gente sente culpa de desejar.

A vida plena não cabe em métricas. Você já pensou sobre isso?
Ela se revela nos intervalos, naquele café que você toma olhando pela janela, numa conversa sem pressa, numa pausa em que o silêncio não incomoda.
É ali que o tempo volta a ter corpo.
Sêneca acreditava que a sabedoria está em escolher o que merece tempo, não em multiplicar o que não precisa. E talvez o nosso maior desafio seja esse: trocar o “quanto fiz” pelo “como vivi”.
Porque uma vida produtiva preenche o dia. Mas uma vida plena preenche a alma.

Caminhos possíveis
Deusa, às vezes a gente acha que o tempo vai se resolver quando a vida acalmar. Mas a verdade é que o tempo nunca acalma, quem precisa desacelerar somos nós.
Percebi que o tempo não se administra, se vive.
E que, quando eu tento encaixar tudo, sempre sobra exaustão.
Mas quando eu escolho o que realmente importa, sobra espaço(dentro e fora).
Então talvez o caminho não seja fazer mais, e sim fazer com alma, como, comer devagar, ouvir de verdade, deixar o silêncio existir sem culpa. Fazer uma coisa de cada vez, inteira, como quem repara no som da própria respiração.

Entre eu e você
Outro dia me peguei dizendo, de novo, que não tinha tempo, mas quando parei pra olhar com calma, percebi que o tempo estava ali, só que eu não estava com ele.
Eu estava dividida entre mil abas abertas, corpo em um lugar, cabeça em outro, coração em lugar nenhum. E foi ali que entendi que o tempo não some: ele se ressente quando a gente não o habita.
Deusa, talvez a pressa seja só uma forma moderna de fugir do vazio. Porque quando a gente desacelera, o silêncio aparece e com ele, tudo o que a gente vinha adiando pra sentir.
Mas é ali, nesse espaço que antes parecia incômodo, que a vida volta a respirar.
Desde que comecei a respeitar esse ritmo mais humano, percebo que o dia não ficou maior, eu é que fiquei mais presente dentro dele. E é impressionante como até as horas mais simples ganham uma beleza que antes eu não via.
Tente a partir de agora fazer como eu, volte a respirar e sentir TUDO em sua volta.

Sêneca dizia que “a vida é suficientemente longa, se for bem usada.”
E talvez “usar bem” o tempo não tenha nada a ver com produtividade e tudo a ver com sentido.
A gente perde tanto tentando preencher o dia, que esquece de se perguntar pra quê.
O tempo, deusa, não é moeda de troca, é matéria-prima de tudo o que vale viver.
A vida não se mede pelo quanto fazemos, mas pelo quanto significa o que fazemos. E se o tempo é breve, que ele ao menos seja verdadeiro.
Com carinho,
Laylä Föz