BRISA DA SEMANA
Um tempo atrás, eu desenvolvi um eczema na mão e, à primeira vista, parecia algo pequeno, só físico, só pele, mas fui me dando conta de que nem sempre o corpo fala de maneira tão literal e muitas vezes ele está traduzindo emoções que a gente guardou sem perceber.
Talvez você já tenha vivido algo parecido, um sintoma que chega de repente, sem explicação lógica, mas que, lá no fundo, você sabia que tinha mais a ver com o que estava sentindo do que com o que estava fazendo.
É isso que tenho aprendido que quando a emoção não encontra espaço, o corpo abre caminho para ela.

E é sobre isso que quero conversar com você nessa semana!
O porquê o corpo nunca mente, ele registra tudo, e quando a voz interna é silenciada, cedo ou tarde ele grita.

O corpo que não esconde nada!
Você sabia que 80% das doenças autoimunes atingem mulheres?
Esse dado por si só já diz muito, mas fica ainda mais claro quando olhamos para as causas emocionais por trás.
O médico Gabor Maté, que há décadas estuda a relação entre emoções e saúde, explica que isso acontece porque as mulheres, historicamente, foram educadas a se preocupar mais com as necessidades dos outros do que com as suas próprias.
Sempre no papel de sustentar a família, de garantir que tudo estivesse em ordem, de se doar até a última gota.

Na teoria, esse gesto pode até parecer um ato de amor, de compaixão.
Mas, na prática, significa engolir emoções, calar limites, silenciar a própria voz para manter tudo funcionando e o corpo, deusa, não é depósito, ele não arquiva para sempre.
O que não é digerido, um dia se transforma em sintoma…

A herança do silêncio
Se a gente olha para trás, vemos uma longa linhagem de mulheres que aprenderam a engolir emoções em nome do coletivo.
Mulheres que se calaram para que a casa tivesse paz, que engoliram a raiva para manter o casamento de pé, que sufocaram a própria tristeza porque não havia espaço para chorar.

Na teoria, parece bonito, um ato de doação, quase heroico, mas na prática, esse silêncio forçado tem um custo alto, o próprio corpo não nos deixa esconder nada, deusa.
Ele guarda aquilo que não pôde ser dito e, quando a emoção é abafada por muito tempo, ela encontra outro caminho…
É por isso que tantas vezes os sintomas aparecem como gritos camuflados, a dor de cabeça que insiste, o cansaço que não passa, a pele que inflama sem motivo aparente.
Você entende o que estou dizendo, certo?
Tudo isso pode ser a herança de sentimentos que não tiveram espaço para respirar, mas agora você sabe e isso muda tudo!

Não dá para fingir que esse silêncio nasceu do nada, ele foi construído dentro de um sistema que nunca deu espaço real para que mulheres fossem inteiras.
Não é porque hoje vemos campanhas de girl power que a desigualdade deixou de existir, essa é só a superfície, e muitas vezes até uma ilusão confortável.
A realidade, fora da nossa bolha, continua dura…
Você já ouviu falar em Mahsa Amini?

Uma jovem iraniana de apenas 22 anos que foi morta pelo Estado porque estava usando o hijab “de forma inadequada”… deixando aparecer parte do cabelo.

Desde então, há anos mulheres continuam indo às ruas em protestos que enfrentam repressões violentas, simplesmente para reivindicar o direito de existir como são.
Esse exemplo extremo nos lembra de algo importante que em muitos lugares do mundo, as mulheres ainda não podem nem mostrar o cabelo, imagine expressar suas emoções.
E nós, que temos o privilégio de poder falar, quantas vezes ainda escolhemos nos calar?
Fica a reflexão minha deusa…

E você?
Quero te perguntar de forma direta: você tem usado a sua voz ou tem guardado tudo para dentro, só para não incomodar?
É fácil cair na armadilha de acreditar que silenciar é a melhor escolha, que é mais simples engolir o que sente do que criar conflito, mas, deusa, cada vez que você se cala para poupar os outros, quem paga a conta é você…
E o corpo não esquece. Ele registra cada emoção não dita, cada limite ignorado, cada verdade sufocada. Até que, um dia, o grito aparece em forma de dor, cansaço, doença.
Não vale a pena esperar que o corpo fale por você. Porque ele sempre fala e quase nunca de um jeito suave.

Caminhos possíveis
Eu sei, não é simples começar a se expressar depois de tanto tempo calando. Só que existem pequenos movimentos que podem abrir espaço para a sua verdade, de um jeito possível, sem drama nem peso.
Dá nome ao que sente → escreva num caderno, grave um áudio só pra você, ou simplesmente diga em voz alta: “eu estou triste”, “eu estou com raiva”, “eu estou cansada”. Nomear é validar.
Aprende a dizer “não” → não como muro, mas como cuidado. Um não bem colocado hoje evita que o corpo precise gritar amanhã.
Troca silêncio por honestidade → quando algo te incomodar, tenta falar no momento, mesmo que seja com simplicidade. Melhor um desconforto curto do que carregar um peso longo.
Escuta a si mesma → antes de perguntar o que os outros precisam, pergunta: “o que eu estou precisando agora?”. Parece pequeno, mas muda tudo.
São micro práticas, deusa, mas cada uma delas é uma forma de lembrar ao corpo que você está escutando, que não precisa mais gritar por você.

Entre eu e você
Eu também estou nesse processo, deusa. Esse eczema na minha mão não é só uma questão de pele, é um recado. E, por mais desconfortável que seja, eu sei que ele está aqui para me mostrar algo que ainda não escutei.
No fundo, é sempre sobre isso: aprender a dar espaço às nossas próprias emoções antes que elas se acumulem.
Eu ainda não tenho todas as respostas, mas sigo observando, respirando e tentando traduzir o que meu corpo quer me dizer.
E, se eu pudesse te deixar com uma lembrança, seria a de que suas emoções não são peso extra, não são um defeito para esconder. Elas são parte de quem você é. E quanto mais espaço você dá a elas, mais inteira você se torna.


Errar não adoece. O que adoece é se calar e a cura começa quando a gente se autoriza a sentir.
Como disse Clarissa Pinkola Estés:
“As lágrimas são orações que viajam até o mar quando não conseguimos falar.”
E você, deusa, vai esperar o corpo gritar ou vai começar a escutar a sua própria voz agora?
👉 Se quiser mergulhar ainda mais nesse tema, te convido a assistir minha entrevista com Sunita Bhogal sobre Visão de Mundo Quântica, Trauma & Amor-Próprio.
Com carinho,
Laylä Föz 🌙